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Como enigmas por desvendar, a memória dos dias trinca as horas, entorpece os sentidos devolvendo a correnteza ao olhar, vem de sal em sal na maré do tempo antes de se tornar vapor desprendido da chávena, que nos toca o rosto sem que o consigamos agarrar. De que vale procurá-la no vidro embaciado onde pousou, no voo triste de uma ave que ampara o vento, ou num verso de O’Neill que se não esqueceu de nós? De que vale persegui-la num poema se a escrevemos sem palavras e para quem os códigos são metafísica de silêncio dobrada sobre a pele? A memória dos dias é esse homem curvado sobre as escadas numa corrida em desalinho que rejeita perder, homem grande, homem com rugas que, qual menino, incita mares, presságios e tempestades sabendo que as vitórias ancestrais não são mais do que miragem inflamando os horizontes da saudade neste oceano que se cumpre, todos os dias, em espelho e presságio.