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Finjo que não penso em ti para não ter mais as mãos frias.
Quiseste tudo, até a morte por achares que uma só vida te não chegava. Tudo te dei mas acabei a dormir sob um teto de nuvens que me gelava o sangue nas veias e ganhei por companheira a solidão que nunca tem ciúmes e acredita que a vida pode ser vivida sem palavras ou primaveras impossíveis.
Depois de ti, não mudei os lençóis, não arrumei a tua escova de dentes e tão-pouco estourei com os discos de vinil que nos levavam às raízes do sono. Nem os livros que guardei no teu ventre se fizeram biblioteca, quanto mais os rabiscos que ousei arrancar-me enquanto a carpete já só exibia o pó dos teus pés. Por isso, finjo que não penso em ti para não ter mais as mãos frias, mas, do outro lado do fingimento, há olhos que ainda luzem na noite.